domingo, 31 de janeiro de 2016

DESINFORMAÇÃO E MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA

GOSTARIA DE DAR CONHECIMENTO AOS AMIGOS COMO O OMBUSDMAN DA FOLHA DE SÃO PAULO TRATA OS VALORES DAS NOTÍCIAS E OS PEDIDOS DE RETIFICAÇÕES DOS LEITORES. LEIAM ABAIXO:
*H*á exatas duas semanas a *Folha de S. Paulo* publicou uma coluna de
Reinaldo Azevedo na qual, para satanizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (o que ele e a *veja* fazem dia sim, outro também, há anos),
mentiu descaradamente sobre o desfecho do Caso Battisti.
Após sustentar que Lula se consideraria "o inimputável da República",
Azevedo foi mais além em suas invencionices manipulatórias:
*"*Vai ver isso decorre daquela maioria excêntrica formada no STF, em 2009,
que decidiu que o refúgio concedido a Cesare Battisti era ilegal, mas que
cabia a Lula decidir se o terrorista ficaria ou não no Brasil. Ficou.
Assim, os excêntricos de toga lhe concederam a licença única para decidir
contra a lei*"*.
No mesmo dia (15/01/2016), os três principais defensores de Battisti na
batalha de opinião publica outrora travada escrevemos à ombudsman da *Folha*,
Vera Guimarães Martins, pedindo um posicionamento do jornal com relação a
quem utiliza suas páginas para falsear a História e insuflar campanhas de
ódio.
Eu pedi à ombudsman que cumprisse a sua missão de defender as boas práticas
jornalísticas, evitando que fosse estigmatizado um escritor já sexagenário,
que está aqui em situação perfeitamente legal e leva vida produtiva e
pacata em nosso país, tendo esposa e filho brasileiros.
*Cesare Battisti, hoje: um sexagenário pacato e produtivo.*
E expliquei o que o Supremo Tribunal Federal *realmente* decidira, ao cabo
de três longas e dramáticas sessões de julgamento, cujas três votações
tiveram o mesmo placar de 5x4, atestando a complexidade do assunto que
Azevedo pretendeu esgotar de forma tão leviana e superficial:
*"*1. anular a decisão do então ministro da Justiça Tarso Genro de
conceder refúgio humanitário a Battisti, por considerar que os motivos
alegados eram insuficientes para tanto;
2. autorizar a extradição de Battisti, solicitada pela Itália;
3. reafirmar a jurisprudência de que cabe ao presidente da República,
como condutor das relações internacionais do País, a palavra final sobre
pedidos de extradição.
Foi, portanto, uma mentira cabeluda do Azevedo: Lula não decidiu 'contra a
lei', apenas exerceu uma prerrogativa presidencial que sempre existiu em
nossa tradição republicana.
Azevedo também tenta vincular demagogicamente a terceira decisão à
primeira, o que é uma ofensa à inteligência dos leitores da *Folha*. O
refúgio humanitário foi anulado, mas isto apenas impedia Lula de o
restabelecer. A decisão presidencial foi outra, a de não autorizar a
extradição*"*.
<http://www.revistaforum.com.br/…/dalmo-dallari-reducao-maio…>
*Para Dalmo Dallari, negar extradição foi "ato de soberania".*
O valoroso jornalista Rui Martins *solicitou*
<http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/…/reinaldo-azeved…>
que
se publicasse algo "para retificar erro do colunista Reinaldo Azevedo, em
nome da equidade e veracidade na imprensa". E deu dois links para a
ombudsman informar-se melhor sobre o assunto, em termos jurídicos: *um*
<http://www.conjur.com.br/…/executivo-quem-ultima-palavara-p…>
do
respeitadíssimo site *Consultor Jurídico* e *outro*
<http://grupobeatrice.blogspot.ch/…/artigo-5-inciso-52-da-co…>
do
maior jurista brasileiro vivo, Dalmo de Abreu Dallari.
E Carlos Lungarzo, professor universitário, escritor e defensor histórico
dos direitos humanos, depois de *esmiuçar*
<http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/…/reinaldo-azeved…>
os
aspectos jurídicos do caso, desabafou:
*"*A posição da *Folha* no caso Battisti é conhecida não apenas no Brasil,
mas também no exterior, bem como suas interpretações do caso e suas fontes,
nem sempre isentas.
Entretanto, a matéria do colunista Reinaldo Azevedo excedeu tudo o que já
lemos na *Folha* e mesmo em outros veículos...*"*
O que fez a ombudsman, diante de tais queixas consistentes, apresentadas
por leitores e cidadãos respeitáveis, os três idosos, os três com um
currículo inatacável como paladinos dos direitos humanos?
*O passado condena: ajudando Médici a soprar as velinhas...*
Nada, absolutamente nada. Nem publicou a retificação que se impunha, nem
mesmo respondeu aos três e-mails. Foi uma ofensa inédita: todos os
ombudsman anteriores achavam algo para dizer em tais situações, ainda que
não passassem de platitudes ou desculpas esfarrapadas.
Ou seja, Vera Martins não cumpriu sua obrigação profissional, não se
comportou com um mínimo de civilidade e nem mesmo levou em consideração a
condição de idosos dos seus interlocutores.
Ficou muito aquém de sua digna antecessora, Suzana Singer, que teve coragem
de discordar da outorga de um espaço semanal para Reinaldo Azevedo fazer
sua panfletagem ultradireitista, argumentando que no jornalismo impresso
"espera-se mais argumento e menos estridência; mais substância, menos
espuma; do contrário, a *Folha* estará apenas fazendo barulho e importando
a selvageria que impera no ambiente conflagrado da internet".
Mas, só pessoas muito especiais ousam remar contra a corrente. E Reinaldo
Azevedo parece ser exatamente o tipo de colunista que a *Folha* gosta de
ter, tanto que acaba de admitir um filhote do dito cujo como *colunista
júnior* no seu site.

NASSERÁ


De Cesare Battisti
Tradução Rafael Alves

Antes de Nasserá, minha reputação no bairro se resumia a subir e descer as escadas do meu prédio para abastecer-me, minha única preocupação, e única percepção possível de mim. Era certamente um deprimido, mas não sabia. Contudo, como eu pagava em dia todas as minhas contas, garantia um “bom dia” de meus vizinhos, incluindo os mais antipáticos, que agora me achavam inofensivo e finalmente apagaram de seus olhares esquivos a palavra ‘parasita’. Além disso, desfrutava de um pequeno conforto, um quitinete herdado, combinado com um certo talento na arte de driblar obstáculos para conseguir auxílios sociais. O que me permitia levar uma vida longe do estresse das ambições.
Depois de Nasserá, passei a tomar trens, um após o outro, porque a cada chegada via apenas uma boa razão para ir ainda mais longe. Longe dos prazeres da decomposição, e recomposto nos caminhos do inferno. Como Nasserá, que havia fugido da África. De qual país africano? Que importância tem isso, quando qualquer africano pobre tem que fugir, mais cedo ou mais tarde, de sua própria terra? Os meus fones de ouvido diziam... “Escute o que diz o vento, my friend o vento vai responder”... Quando a minha vida ia se fundir à dela. Antes, eu não imaginava que na rua existissem pessoas sem direito de ir e vir, e nunca tinha visto uma mulher escapar da polícia tão graciosamente. Ela não correu, mas seu corpo emanava uma força que moveu o ar. A baguete caiu de minhas mãos quando me desesperei para abrir a porta do prédio.
Ela tinha as maçãs do rosto salientes, o nariz bem desenhado e o cabelo cortado como o de um rapaz. Sabia onde encontrar os testículos de carneiro para preparar o Mako-Mako, delicioso, mesmo sem o fígado de dromedário. Sua voz era tão doce quanto seus suspiros. Mas ela estava ferida, não apenas na mente, mas também em seu corpo. Ela fez amor comigo no escuro porque tinha vergonha de seu corpo mutilado pelas agulhas das megeras que procuravam a marca do diabo. “E elas descobriram a marca?” Um fanático sempre encontra o que procura; em Nasserá havia dezenas.
Fugir. Salvar a vida, sua liberdade de ser mulher opositora do apedrejamento daqueles que ousavam aventurar-se, em sua aldeia, para ensinar o perigo da Aids.
Nasserá, bruxa para alguns, adultera para outros. Aqui, imigrante ilegal.
Eu nunca frequentei muito cinema até conhecer Nasserá. Ela tinha um método infalível para evitar longas filas nos guichês: "Se há muita gente, o filme não é bom." Sempre na fileira da frente, levantava a cabeça como se a tela fosse um céu palpitante. E ela planava. De repente, entre uma exclamação e um suspiro, voltava um instante para mim com um beijo na bochecha. Estava eu apaixonado? Hoje eu revivo em pensamento essas palavras que me levaram a construir uma armadura de indiferença que sempre carregarei.
Nasserá podia ler minha mente, curou minhas dores de cabeça pousando a mão esquerda sobre meu ombro. "Você é uma bruxa?" Sua risada ressoou na sala como mil sininhos. Guillaume, meu vizinho, não gostava de mim. Ele era primo de um do secretário de segurança e tinha muita sensibilidade auditiva. Tornava-se cada dia mais intolerante. Seus gerânios adoeceram, envenenados, disse ele. Nasserá o evitava, eu me ria.
Eu odeio croissant de chocolate. Nasserá adorava. No saco de pão eu levava dez. Caíram de minhas mãos quando o porteiro me disse que ela tinha sido levada pela polícia. "Onde?" Corri. Como barata tonta, esbarrava nos muros do cinismo erguidos no anonimato das instituições. O silêncio antes da infâmia: "Vá para casa, senhor, ela se enforcou."
Voltei. Como verme em seu casulo.
O coração envolto em névoa, fazia minhas malas quando os bombeiros descobriram o corpo de Guillaume, meu vizinho, o primo do secretário de segurança. Morto, enforcado.
Hoje sempre volto à pergunta que um dia fiz à minha pequena clandestina: "Diga-me Nasserá, você nunca teve medo da morte?" Ela então olhou-me com seus olhos negros admirados: "Quando se morre, tem-se muito mais a fazer do que pensar sobre a morte...". Nunca tinha pensado nisso, mas agora penso.
E em toda estação ferroviária eu não vejo outra coisa, pessoas morrendo sem se dar conta.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

ENCONTRO DE FAMIÍLIA


  Outro ano e aí vai mais um encontro da Família Battisti no Brasil. O décimo quarto. Não participei a todos, teria sido impossível. Em 2002, quando tudo começou, ainda estava morando na França e nessa época se quer tinha imaginado que algum dia, em 2004, ia parar neste Pais, para me reunir com tantos Battisti, uma multidão inimaginável até mesmo na terra de onde todos nós vimos. Até 2007, por óbvias razões, tanto eu como o Encontro da Família passamos reciprocamente despercebidos. Depois disso veio o meu processo de extradição com quase quatro anos e meio de cadeia. Mas já nesse período alguns Battisti tinham reparado em mim e quando fiquei livre de ir e vir, eles me apanharam durante o Foro Social de Porto Alegre, quando me prestava a tomar a palavra em um debate sobre literatura .

  Impossível esquecer desse momento. A sala lotada, um pelotão de jornalistas na espreita de flagrar o monstro Battisti, a mesa composta de alguns corajosos dispostos a desafiar a provocação que podia chegar a qualquer momento. Foi nesse instante que, em um passo decisivo, Pedrão e Jair Battisti vieram se erguer na minha frente, provocando um murmúrio na sala e a excitação do scoop iminente entre os jornalistas. Nós, da mesa, não tivemos nem tem ainda palavras para descrever o panico que cada um ressentiu frente aos quase dois metros de Pedrão e a não indiferente corpulência de Jair. Foi Pedrão que atacou primeiro em voz alta : “Meu nome é Pedro Battisti. Tenho uma fábrica de móveis que se chamava assim e por causa de você, veja evitar a falência, tive que trocar de nome. A esse ponto o jornalistas estavam com a baba à boca; nós da mesa tentávamos respirar o que ficava de oxigênio na sala. Mas, e sempre tem um 'mas', de repente tudo mudou. O gigante Pedrão sorriu, mostrou-me o livro que tinha em baixo do braço e pediu-me muito gentilmente uma dedicatória. Era o meu primeiro romance publicado no Brasil.

  Esvazia-se a sala, ao final do debate, Pedro e Jair nos convidaram para jantar. Foi em uma das melhores churrascaria de Porto Alegre que eles me contaram sobre o Encontro da Família Battisti que vinha acontecendo cada segundo domingo de janeiro e ao qual gostariam me apresentar.

   Acabo de presenciar, junto com meu irmão e a esposa dele que vêm da Itália cada ano precisamente nessa data e não é por acaso, ao décimo quarto Encontro da Família Battisti em Rodeio Bonito, RS. Como era de se esperar, foi uma grande festa, cheia de abraços, lagrimas de prazer e tante cose buone come si dice da noi.
Aí vêm algumas imagens.
Até a próxima.