segunda-feira, 16 de maio de 2016

papagaio não é besta

No que você está pensando?


É a pergunta insipida do face. Como se todo mundo não tivesse mais preocupações além de ter perdido de vista o papagaio da Globo, esse de plástico parecido à velhinha com quem ele conversa.
Tudo bem. Isso faz parte do jogo.
Mas, acredito que deve ter pessoas com outras cabeça, estou falando daqueles que não param de pensar no dia próximo onde ninguém poderá mais impedir a cada ser humano de tomar consciência para gritar que ha chegado enfim a hora de dizer BASTA:
 "NÓS, NADA MAIS QUE NÓS TEMOS A PALAVRA FINAL SOBRE O QUE O ṔOVO PRECISA PARA VIVER.NAO VEGETAR NO CONSUMISMO. 
E os papagaios deveriam ficar no mato onde se criaram em vez de dizer besteira na televisão.

Andar pelo além.


Andar é
contra o soprar do vento
passos seguros, ideias curvas
receptivas.
Afastando nuvens
abrindo, céus.
Caminhos claros
assoleados
frente à vida.
Atrás pontes
queimadas.
Andar oblíquo,
Transversalidade
eterno retorno.
Mesmos caminhos?
murmuram todos eles sem parar, mas
Escuta esse,
não está falando algo diferente?

(anonimo conhecido)

"Brasilhoje". Visto por um poeta do centro cultural Garrincha


DE CANJICAS A COXINHAS
Em O Alienista, além dos limites entre razão e loucura, Machado de Assis ironiza a política na sociedade de seu tempo como simples soma de interesses dos particulares. Por isso, quando surge o menor dos embates seus partícipes preferem a resignação, como fez o líder barbeiro ao sair da cena pública e deixar o movimento das Canjicas sem a sua cabeça.
Uma obra tem valor universal ao atravessar as eras e dialogar com as gerações futuras. Mas, para recordar a indagação do crítico Antônio Cândido, o que O Alienista de Machado teria para nos dizer nos dias de hoje? Quem são as Canjicas de nosso tempo?
UMA COXINHA EM DOIS ATOS
Ato I– comédia de como as coxinhas foram às ruas
Garota, eu vou pra Califórnia...”, cantarolava ao sair do banheiro.
Tomou um café reforçado e lá se foi, todo brasuca da silva. Da silva não porque era Smith desde pequenino.
... o meu destino é ser star”, cantarolou uma vez mais pouco antes de se juntar a multidão. Ele tava que tava:
Bumbum redondinho como a base de uma coxinha. Vuvuzela amarela na mão esquerda, vez ou outra assoprada em saudação àquela gente bonita. Bandeira da pátria amarrada ao pescoço e caída sobre as costas – um Clark Kent dos trópicos. E nem mesmo esqueceu-se da cartola: uma réplica da do Tio Sam com gomos intercalados em verde e amarelo. Porém, agora a canção já era outra:
Sou brasileiro, com muito orgulho...”, engrossou o coro, todo senhor de si.
Dessa vez jornalistinha algum iria pegá-lo desprevenido, dizia com seus botões: o lábaro, a flâmula e o impávido estavam na ponta da língua. Um papelzinho no bolso era sua retaguarda. Brasileiro por tinta e papel.
Não era de confusão. Nem de se meter em política. Na verdade, detestava política. Porém, a coisa agora era diferente. Via que não estava só. Que havia muitos iguais a ele, ainda que não entendesse que no mesmo ato uns gritassem contra o Estado e outros clamassem por um Estado forte. O importante é que ali eram todos iguais: uma gente feita de carne, osso e botox. Gente pacata, ordeira e com impostos em dia. Gente que não levava desaforo nem DVD pirata para casa. Gente que se rebelaria um dia. E esse dia havia chegado. Saga registrada para ser contada às futuras gerações:
- um dia seu pai foi um rebelde, meu filho! – devaneou por segundos com filho imaginário ao colo e sorriso congelado por mais uma selfie.

Ato II - tragédia – do conflito entre coxinhas
Hoje o dia prometia. Momento de resistência. Não teve dúvida. Os anos de escritório davam-lhe garantia. Estufou o peito, dirigiu-se ao patrão e pediu uns dias das férias vencidas. Queria se somar aos revoltosos que bloqueavam a Avenida Paulista, justificou. Pedido aceito.
Rumo à Paulista lembrou-se das gafes na última manifestação. Gafes que não poderia mais cometer. Mas como ia saber? No movimento as coisas são dinâmicas. Tudo pode mudar a qualquer momento. Senão, vejamos.
Numa manifestação o grito era: Somos milhões de cunhas! Na outra, feriado prolongado, viajou e perdeu o protesto. Na terceira, tentou puxar o coro do somos todos cunhas e quase foi linchado. Depois descobriu que o nobre deputado já não era tão nobre assim. Coisas da política.
Agora, ali, junto aos seus, o clima estava tenso. Havia ordens para retirá-los.
- Resistir! Resistir! Bradava os mais eufóricos. Gritos que logo se tornariam seus.
Não acreditava que seu governador desse ordens contra quem enfrentava o governo federal nas ruas. Eles, os verdadeiros paulistas. Eles, os não vagabundos.
- E a polícia? Indagava a si mesmo.
-“Policial é meu amigo. Mexeu com ele, mexeu comigo”. Ainda retinha fresco na memória o grito de guerra e as selfies tiradas junto a policiais nas manifestações anteriores. Será que eles teriam coragem? Não. Eles são do bem, concluía em pensamento. E pensava outras coisas mais: de como entrou no movimento. De como teve que jogar fora as camisas (e mesmo sua cueca preferida) apenas por serem vermelhas. Minha bandeira nunca será vermelha! Passaria a reproduzir o brado em pouco tempo.
Por vezes sentia saudades do passado. Coisa estranha. Ainda que fosse um passado recente, intuía que não haveria volta no tempo. Tempo em que viajava aos States. Ah, Estados Unidos da América – balbuciava num sonho acordado.
Terra da liberdade. Terra da Disney. Terra de verdadeiros shoppings e varejo de coisas boas a encher sacolas para depois esvaziá-las no retorno à pátria. Incremento financeiro reduzido a nada com o incentivo ao crédito e surgimento da tal emergente classe C. Ela evaporou-se, é verdade, mas não sem antes abarrotar os aeroportos do país para ir inflar os produtos americanos. Gente demais. Produtos de menos. Preços lá em cima.
Maldito sapo barbudo! Eis o seu ódio. Ódio que pulou da divagação para a realidade, tornando tragicômico o desfecho do ato.
O susto foi grande e o devaneio interrompido. Tempo não houve para muita coisa.
- Que absurdo! Onde estaria o respeito, o patriotismo? Berrou em direção aos policiais. Logo ele que protestava contra os corruptos da Lava jato receber um jato d’água no ouvido! Isso não ficaria assim! E passou a gritar: Fora petistas! Fora petistas! Fora petistas!
E numa outra versão: Petistas de fardas! Petistas de fardas! Petistas de fardas!
Nada adiantou. Novamente foi encharcado. Apavorado, ainda pediu ajuda: Socorro, FIESP! FIESP, socorro! FIESP socorro! Socorro FIES...
Não houve socorro. Sequer um pato respondeu quenquém. Houve, sim, mais um jato d’água, forte e concentrado que o pegaria em cheio. Cheia estava sua cabeça enquanto ele rolava pelo chão. Nela tudo ia se misturando: situação e oposição; lava jato e jato d’água; sim e não; impeachment e minha família; super herói da justiça e super herói dos quadrinhos, STF e FDP; japonês da federal e japonês virtual. Tudo, tudo conformando uma só pasta que ele já não sabia distinguir muito bem.
Como teria saído daquela enrascada ele não sabia ao certo. O resfriado o deixou acamado por dias. Por sorte não foi H1N1. Viu pela TV imagens da Avenida Paulista com uma dezena de barracas vazias. Vazia estava a sua mente. Ele nunca mais quis enchê-la com coisas de uma juventude outrora rebelde. Amanhã é dia de batente, pensou, virou pro lado e dormiu.
10/05/2016,
Carone.

terça-feira, 8 de março de 2016

Neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas.
Desde então, é importante lembrar que o sacrifício da mulher em toda luta pela revolução do povo contra o sistemas capitalista e assassino foi determinante. Poderíamos citar aqui milhares de nomes de mulheres que deram a própria vida pela emancipação e o reconhecimento de ser mulher, valorizando a diferença mas exaltando a igualdade na luta pela liberdade.
BOM DIA MULHER, VOCÊ É TUDO!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

PEQUENA HISTÓRIA DE UM TIO. Proximamente a tradução em português


Zi Gecco




Jamais l'abbaye des frères cisterciens n'avait vu autant de monde comme ce fut le cas le jour des funérailles de Zi Gecco. Entre amis et curieux, les visiteurs était tellement nombreux que l'abbé dut charger un peloton de novices pour que la file se déroule en bon ordre devant le cercueil.
Zi Gecco n'était pas un notable ni un politique important, mais c'était l'homme du Chêne. Celui qui parlait aux chiens mais surtout connu à cent kilomètres à la ronde comme l'infaillible météorologue au palo de la trinità. Enveloppé de mystère, personne n'avait pu dire avec précision, au moment de rédiger son acte de décès, la durée de sa vie. On l'avait traité de fou, de philosophe ou de sorcier, selon le degré des préjugés. À présent qu'il ne prévoyait plus rien, on s'était déplacé de loin, juste pour s'arrêter un instant devant le couvercle fermé de sa caisse, fabriquée à toute vitesse par un menuisier du coin qui avait exigé que la dernière demeure de Zi Gecco soit faite du bois de ce même vieux Chêne qui l'avait abrité durant sa vie. Car en ce jour, on ne plaignait pas seulement la mort de Zi Gecco, brûlé vif, mais aussi de l'assassinat de ce colosse séculaire abattu à la tronçonneuse encore en pleine santé. Ce qui avait sans doute poussé Zi Gecco à frotter sa dernière allumette.
Mais allons voir.
Le drame allait se consommer un vendredi de Pâques, quand à 07h pile Zi Gecco descendait sa butte à petit pas, suivi par ses onze chiens. Il avait du mal à comprendre mais ce matin-là, une insolite hésitation des chiens à l'heure de se mettre en route lui suggérait que quelque chose ne tournait pas rond.
Cela donnait à réfléchir.
Il boucha rapidement l'entrée de sa cabane avec une grosse boule de ronces, comme il le faisait chaque matin avant de descendre jusqu'à son vieux chêne, dont les branches séculaires l'abritaient de la pluie et du soleil à longueur de jour.
Cet arbre, dont le tronc demandait six bras d'homme pour l'entourer, gardait l'entrée de l'ancienne abbaye des frères cisterciens comme un maître du temps. L'homme était arrivé sur la lune, l'urbanisation avait dévoré mer et monts, mais pas une goutte de ciment n'avait encore coulé sur ce doux versant des Préappenins où, ayant échappé à la convoitise des agro-industriels, les oliviers tordus par les siècles escaladaient paresseusement la pente, jusqu'où la neige le permettait.
Depuis bien longtemps, quand ne passaient encore sur cette route départementale que de ânes et quelque rares Fiat menant les autorités en ville, Zi Gecco passait déjà ses jours en apprenant le langage des chiens à l'ombre du chêne. Il n'était pas vraiment croyant, ni ne s'était d'ailleurs jamais posé ce genre de questions, mais même ainsi, les frères de l'abbaye, le trouvant inoffensif, avaient pris l'habitude d’ajouter un plat de soupe à table. Il acceptait, plus pour entretenir des relations de bon voisinage que par nécessité, vu que, à manger et à boire pour lui et ses bestioles, il en avait souvent de trop. Sa première occupation en arrivant sur place était de décrocher toute sorte de paquets que ses nombreux amis prenaient soin de lui laisser bien à l'abri de fourmis.
Zi Gecco était singulier, sans doute, mais tout le monde avait de l'affection pour lui et, à part les notables qui n'ont jamais le temps de s'arrêter, les vachers, les bergers, des écoliers aussi, lui laissaient toujours chemin faisant une petite pensée suspendue à son arbre. Et lui, dès son arrivée, il séparait la nourriture pour lui ou pour ses chiens et, selon la chaleur, allait conserver les denrées périssables dans le ruisseau d'à côté. Le reste de la journée ne se prêtait pas à l’ennui.
Même dans ce petit coin ignoré par la voracité de l'homme, les effets du temps se faisaient sentir et maintenant, Zi Gecco avait parfois du mal à s'occuper de tout ce monde qui, au fur et à mesure, avait remplacé l’âne pour une voiture et les pâturages pour une usine. Mais Zi Gecco, à l'ère de la télé et des satellites, était toujours le seul météorologue digne de confiance absolue. Une réputation conquise et méritée à travers des décades de pronostics d'une précision stupéfiante. De mémoire d'homme, il n'avait jamais raté une pluie, un sirocco ou une tempête. Voila pourquoi, en dépit de la difficulté à se garer près du chêne, de père en fils on restait fidèles aux prévisions indéfectibles de celui qui parlait avec les chiens. Parmi ceux qui s'arrêtaient pour le consulter, beaucoup ne se préoccupaient guère de savoir s'il allait faire bon ou mauvais, mais il était difficile de passer par ce chêne sans y faire une halte pour caresser quelques petites têtes de ses bestioles et surtout, surtout voir Zi Gecco tourner autour de son palo de la trinità, les yeux fermés, narines dilatées, pendant que ses bras moulinaient l'air dans un frénétique mouvement circulaire inversé. Cela ne durait pas plus d'une ou deux minutes au maximum, cela dépendait de la distance et de la vitesse du courant d'air à prévoir.
Combien de fois, avec un ciel totalement dégagé et sans un fil de vent, il avait surpris ses patients – c'était ainsi qu'il les appelait- en leur annonçant une averse de grêle dans l'heure à venir. Il ne manquait pas de sceptiques qui attendaient sur place, dans la certitude de pouvoir ensuite se moquer de lui. Inévitablement, on voyait sans tarder l'incrédule courir à toute vitesse à sa voiture, frappé par les grêlons. A ces occasions, Zi Gecco n'avait jamais rien a redire. Il allait se nicher dans une confortable cavité à la base du tronc du chêne et là, il se marrait tout doucement des caprices du temps et plaisantait avec les chiens.
Bien sûr, Zi Gecco avait ses soucis comme tout le monde. Il y eut par exemple un moment, et cela à cause d'un de ces mystiques chevelus qui parlait comme une machine à coudre et qui s'était mis allez savoir quoi en tête, où un tas de gens, y compris une équipe de télévision, s'étaient un beau jour pointés au chêne avec l'absurde prétention d’emporter avec eux son palo de la trinità pour le faire analyser. L'étudier, comme ils disaient. On cherchait à le convaincre, on lui disait surtout qu'il ne pouvait pas s'opposer au progrès, empêcher la science de faire ce qui lui revenait de droit, etc. Enfin, il leur fallait faire la lumière sur cette légende qui, disons-le, avait déjà créé assez de malentendus.
Même n'ayant pas compris tout de leur arguments, Zi Gecco ne manqua pas de patience en leur expliquant que son palo n'avait vraiment rien de spécial, qu'il l'appelait de la trinitá tout simplement parce qu'il l'avait coupé dans une vallée voisine qui portait ce nom. Ce n'était qu'un bâton, fait avec la troisième branche polie d'un châtaigner quelconque, comme en trouvait partout dans le coin. Et s'ils étaient vraiment intéressés, il pouvait leur en procurer une dizaine exactement semblables, il fallait juste attendre la lune décroissante. Mais celui-ci, son palo, alors là non, pas question de s'en séparer. C'était affectif. Ses chiens, d'ailleurs, ne l'auraient jamais permis. Ainsi disant, il extirpa son palo du sol, là où il le plantait chaque matin, et à l'instant même un chien roux vint le prendre dans sa gueule et dévala la pente à toute vitesse.
Le mystère de son infaillibilité sur les prévisions du temps, qui à une époque révolue était resté circonscrit aux foyers des environs courait maintenant de bouche en bouche, alimentant la curiosité, mais attisant aussi la convoitise de certains coquins qui auraient tout fait pour s'approprier le fameux palo de la trinità. Sa cabane avait été fouillée à plusieurs reprises et une fois, il avait été même surpris et drogué en pleine nuit. Le lendemain, il s’était réveillé dehors, au milieu de dizaine de trous creusés tout autour. On avait emporté tout ce qui pourrait ressembler à un fétiche, tout objet aux senteurs de potions magique. Il ne s'en faisait pas, sauf pour ses chiens qui, avec leur masse corporelle plus faible, avaient plus de mal que lui à se remettre du somnifère qui leur avait aussi été administré. Une fois seulement, découvrant la disparition d'une marmite en cuivre emportée lors d’un de ces pillages, il fut sacrement touché. À croire que ce chaudron, qui avait servi depuis toujours à préparer des décoctions incomparables contre les rhumatismes, était un vestige, peut-être le dernier, qui par un fil d'éther le rattachait à l'origine où résidait la raison de son existence. Pour la première fois, cédant au chagrin, il avait déserté son chêne pendant deux ou trois jours.
Autrefois on se serait vite inquiété de cette absence, mais les temps changent et, avec la télévision qui remplace tout et dit vrai même quand elle se trompe, on n’avait plus le temps d'aller voir ce qui était arrivé à Zi Gecco, qui n’avait pas touché à ses sacs de nourriture pendus au chêne.
Au fond, ceux qui s'intéressaient encore sérieusement à ses prévisions sans faille ou à son palo, étaient plus des scientifiques excentriques ou des chasseurs de trésors que la progéniture du coin, qui travaillait désormais en ville. S’ils lui sacrifiaient encore quelque minute, c'était par vague respect pour la tradition, à peine, et parfois sans même descendre de voiture. Si les parents de ces nouveaux employés pressés étaient encore vivants, les fistons, pour qui le bon ou mauvais temps ne changeait en rien leur routine, n’oubliaient pas que Zi Gecco n'était pas qu'un baromètre à consulter à l’occasion. Loin de là, Zi Gecco était un esprit unique : le seul être vivant connu qui, par des circonstances extraordinaires, n'avait pas eu besoin d'abandonner l'instinct animal pour acquérir l’intelligence humaine. Il avait tout naturellement la faculté de conjuguer le kairos avec le conceptuel ; le don de combiner à justes doses diagnostic et pronostic, mais dont la précision n'était pas explicable, sinon par la présumée magie de son totem : le palo de la trinità.
Les anciens avaient bien senti que Zi Gecco n'était pas comme les autres. Ils n'auraient pas su dire ce qu'il avait de spécial, mais ils savaient avec certitude que cet homme sans âge qui parlait aux chiens était plus qu'un baromètre et ils ne cherchaient pas plus loin. Au contraire de leurs fils et petits-fils, qui se limitaient aujourd'hui à nourrir une légende, histoire de ne pas crever d’ennui, leurs vieux le respectaient et le craignaient.
Mais, comme on disait, le monde change et avec les nouvelles générations, nous avons ceux des vallées qui vont s'intoxiquer dans les bureaux en ville et d’autres qui quittent la ville et essayent d'oublier l'omniprésence des ordinateurs en tirant sur un joint à l'air libre. Attirés par le tempérament pacifique, mais surtout à cause de certaines formulations verbales qu'on trouvaient foisonnantes, ces derniers avaient pris l'habitude de se retrouver au coucher du soleil sous le vieux chêne de Zi Gecco. D'ailleurs, une ancienne abbaye enfoncée dans la fraîcheur et la paix des oliviers centenaires, le fracas des eaux roulant les pierres du torrent d'à côté, et cet homme qui devine le temps et parle aux chiens comme Saint François le faisait avec ses oiseaux, y avait-il meilleur tableau pour ces jeunes en quête d'épanouissement ?
Zi Gecco recevait tout le monde, le chêne ne s'en plaignait pas et, tout comme lui, ses chiens n'avaient rien à redire non plus à l'odeur douceâtre de la fumette. Cela leur semblait même moins suspect que les litrons de blanc que certains paysans respectables du coin venaient encore se siffler dans le seul endroit où leur femmes n'auraient jamais mis les pieds. Car Zi Gecco et son chêne n'étaient pas dans les grâces de certains foyers catholiques apostoliques et romains, lesquels chaque dimanche allaient à la queue leu leu se confesser chez les cisterciens, surtout pour leur demander de virer enfin cet hérétique et son palo ensorcelé de ce lieu bénit.
De son côté, loin d'imaginer de telles réactions de rejet, Zi Gecco et ses chiens avaient toujours en réserve un petit numéro, de quoi surprendre allègrement quiconque passait par là sans oublier de jeter un coup d’œil à ce bon chêne, témoin impérissable d'un monde franc fait pour ne déplaire à personne.
Mais voilà que depuis qu'on a commencé à s'en occuper sérieusement, la liberté s'est vite révélée être un bien trop lucratif pour la laisser dormir à l'ombre des chênes ou des oliviers. Un esprit libre est un guerrier et la liberté est un butin de guerre. Ceci, Zi Gecco ne le savait pas, et ses nouveaux ''patients '' n'étaient pas ici pour y veiller.
Néanmoins, parmi ces drôles d'oiseaux urbains qui venaient en fin de journée dégourdir ses ailes chez lui, l’un d’eux avait essayé de le mettre en garde contre les maîtres des ténèbres qui engloutissent tout sur leur chemin, avec une claire préférence pour les vieux chênes et leurs derniers habitants. Gentil comme il l'était, Zi Gecco semblait écouter les bons conseils de tout le monde. Mais dès que les voitures des ces jeunes sages redémarraient, toute ces recommandations s'envolaient comme un dernier vol d'oiseaux effrayé. Et le lendemain ne serait qu'un autre jour, égal et différent comme l'éternité.
Sauf ce matin du vendredi de Pâques.
Depuis sa cabane, Zi Gecco prenait toujours un raccourci à travers le bois qui débouchait abruptement sur la départementale, juste en face du chêne. Les chiens qui d'habitude le devançaient, traînaient étrangement ce matin derrière lui. Au point que Zi Gecco dut s'arrêter à plusieurs reprises pour leur demander raison de cette gênante paresse. Les chiens écoutaient ses réprimandes la tête entre les pattes, dans un mutisme déconcertant. Un frisson parcourut le dos de Zi Gecco, l'air était frais et les buissons brillaient sous la rosée du matin. Il encouragea ses bestioles et allongea le pas.
À l'instant où il sauta sur le goudron de la départementale, un rayon de soleil le frappa au visage comme une lame de feu. Il recula, ferma les yeux, les chiens tous ensemble émirent un seul gémissement aigu. Quelque chose ne tournait vraiment pas rond. Ce soleil ne devrait pas être là, pas comme cela. C'est-à-dire, il était bien à l'heure, et chez lui. Voyons, qui pourrait se permettre de lui donner des ordres, seulement que... Le chêne, c'était son chêne qui n'était plus à sa place ! Il s'était couché. Le soleil montait dans le ciel, ses dards ardents avaient aveuglé Zi Gecco, mais le chêne gisait sur le flanc, indifférent aux cris des oiseaux qui voletaient au dessus de ses branches à la recherche désespérée d'un signe de vie.
Pendant le temps d'une longue réflexion, Zi Gecco regarda, fasciné, le disque candide de l’arbre scié, hypnotisé par la blancheur monumentale qui pulsait encore du tronc juste abattu. Puis les chiens mordirent ses pantalons, saignèrent ses mollets, jusqu'à l'arracher du goudron et l'obliger à regagner la protection ombrageuse du bois.
Zi Gecco recula alors un pas après l'autre. Arrivé à sa cabane,
avec un cri horrifiant, il dispersa ses onze chiens, puis écarta la boule de ronces, pénétra à l’intérieur, s'agenouilla devant son palo de la trinitá et craqua sa dernière allumette.

domingo, 31 de janeiro de 2016

DESINFORMAÇÃO E MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA

GOSTARIA DE DAR CONHECIMENTO AOS AMIGOS COMO O OMBUSDMAN DA FOLHA DE SÃO PAULO TRATA OS VALORES DAS NOTÍCIAS E OS PEDIDOS DE RETIFICAÇÕES DOS LEITORES. LEIAM ABAIXO:
*H*á exatas duas semanas a *Folha de S. Paulo* publicou uma coluna de
Reinaldo Azevedo na qual, para satanizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (o que ele e a *veja* fazem dia sim, outro também, há anos),
mentiu descaradamente sobre o desfecho do Caso Battisti.
Após sustentar que Lula se consideraria "o inimputável da República",
Azevedo foi mais além em suas invencionices manipulatórias:
*"*Vai ver isso decorre daquela maioria excêntrica formada no STF, em 2009,
que decidiu que o refúgio concedido a Cesare Battisti era ilegal, mas que
cabia a Lula decidir se o terrorista ficaria ou não no Brasil. Ficou.
Assim, os excêntricos de toga lhe concederam a licença única para decidir
contra a lei*"*.
No mesmo dia (15/01/2016), os três principais defensores de Battisti na
batalha de opinião publica outrora travada escrevemos à ombudsman da *Folha*,
Vera Guimarães Martins, pedindo um posicionamento do jornal com relação a
quem utiliza suas páginas para falsear a História e insuflar campanhas de
ódio.
Eu pedi à ombudsman que cumprisse a sua missão de defender as boas práticas
jornalísticas, evitando que fosse estigmatizado um escritor já sexagenário,
que está aqui em situação perfeitamente legal e leva vida produtiva e
pacata em nosso país, tendo esposa e filho brasileiros.
*Cesare Battisti, hoje: um sexagenário pacato e produtivo.*
E expliquei o que o Supremo Tribunal Federal *realmente* decidira, ao cabo
de três longas e dramáticas sessões de julgamento, cujas três votações
tiveram o mesmo placar de 5x4, atestando a complexidade do assunto que
Azevedo pretendeu esgotar de forma tão leviana e superficial:
*"*1. anular a decisão do então ministro da Justiça Tarso Genro de
conceder refúgio humanitário a Battisti, por considerar que os motivos
alegados eram insuficientes para tanto;
2. autorizar a extradição de Battisti, solicitada pela Itália;
3. reafirmar a jurisprudência de que cabe ao presidente da República,
como condutor das relações internacionais do País, a palavra final sobre
pedidos de extradição.
Foi, portanto, uma mentira cabeluda do Azevedo: Lula não decidiu 'contra a
lei', apenas exerceu uma prerrogativa presidencial que sempre existiu em
nossa tradição republicana.
Azevedo também tenta vincular demagogicamente a terceira decisão à
primeira, o que é uma ofensa à inteligência dos leitores da *Folha*. O
refúgio humanitário foi anulado, mas isto apenas impedia Lula de o
restabelecer. A decisão presidencial foi outra, a de não autorizar a
extradição*"*.
<http://www.revistaforum.com.br/…/dalmo-dallari-reducao-maio…>
*Para Dalmo Dallari, negar extradição foi "ato de soberania".*
O valoroso jornalista Rui Martins *solicitou*
<http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/…/reinaldo-azeved…>
que
se publicasse algo "para retificar erro do colunista Reinaldo Azevedo, em
nome da equidade e veracidade na imprensa". E deu dois links para a
ombudsman informar-se melhor sobre o assunto, em termos jurídicos: *um*
<http://www.conjur.com.br/…/executivo-quem-ultima-palavara-p…>
do
respeitadíssimo site *Consultor Jurídico* e *outro*
<http://grupobeatrice.blogspot.ch/…/artigo-5-inciso-52-da-co…>
do
maior jurista brasileiro vivo, Dalmo de Abreu Dallari.
E Carlos Lungarzo, professor universitário, escritor e defensor histórico
dos direitos humanos, depois de *esmiuçar*
<http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/…/reinaldo-azeved…>
os
aspectos jurídicos do caso, desabafou:
*"*A posição da *Folha* no caso Battisti é conhecida não apenas no Brasil,
mas também no exterior, bem como suas interpretações do caso e suas fontes,
nem sempre isentas.
Entretanto, a matéria do colunista Reinaldo Azevedo excedeu tudo o que já
lemos na *Folha* e mesmo em outros veículos...*"*
O que fez a ombudsman, diante de tais queixas consistentes, apresentadas
por leitores e cidadãos respeitáveis, os três idosos, os três com um
currículo inatacável como paladinos dos direitos humanos?
*O passado condena: ajudando Médici a soprar as velinhas...*
Nada, absolutamente nada. Nem publicou a retificação que se impunha, nem
mesmo respondeu aos três e-mails. Foi uma ofensa inédita: todos os
ombudsman anteriores achavam algo para dizer em tais situações, ainda que
não passassem de platitudes ou desculpas esfarrapadas.
Ou seja, Vera Martins não cumpriu sua obrigação profissional, não se
comportou com um mínimo de civilidade e nem mesmo levou em consideração a
condição de idosos dos seus interlocutores.
Ficou muito aquém de sua digna antecessora, Suzana Singer, que teve coragem
de discordar da outorga de um espaço semanal para Reinaldo Azevedo fazer
sua panfletagem ultradireitista, argumentando que no jornalismo impresso
"espera-se mais argumento e menos estridência; mais substância, menos
espuma; do contrário, a *Folha* estará apenas fazendo barulho e importando
a selvageria que impera no ambiente conflagrado da internet".
Mas, só pessoas muito especiais ousam remar contra a corrente. E Reinaldo
Azevedo parece ser exatamente o tipo de colunista que a *Folha* gosta de
ter, tanto que acaba de admitir um filhote do dito cujo como *colunista
júnior* no seu site.

NASSERÁ


De Cesare Battisti
Tradução Rafael Alves

Antes de Nasserá, minha reputação no bairro se resumia a subir e descer as escadas do meu prédio para abastecer-me, minha única preocupação, e única percepção possível de mim. Era certamente um deprimido, mas não sabia. Contudo, como eu pagava em dia todas as minhas contas, garantia um “bom dia” de meus vizinhos, incluindo os mais antipáticos, que agora me achavam inofensivo e finalmente apagaram de seus olhares esquivos a palavra ‘parasita’. Além disso, desfrutava de um pequeno conforto, um quitinete herdado, combinado com um certo talento na arte de driblar obstáculos para conseguir auxílios sociais. O que me permitia levar uma vida longe do estresse das ambições.
Depois de Nasserá, passei a tomar trens, um após o outro, porque a cada chegada via apenas uma boa razão para ir ainda mais longe. Longe dos prazeres da decomposição, e recomposto nos caminhos do inferno. Como Nasserá, que havia fugido da África. De qual país africano? Que importância tem isso, quando qualquer africano pobre tem que fugir, mais cedo ou mais tarde, de sua própria terra? Os meus fones de ouvido diziam... “Escute o que diz o vento, my friend o vento vai responder”... Quando a minha vida ia se fundir à dela. Antes, eu não imaginava que na rua existissem pessoas sem direito de ir e vir, e nunca tinha visto uma mulher escapar da polícia tão graciosamente. Ela não correu, mas seu corpo emanava uma força que moveu o ar. A baguete caiu de minhas mãos quando me desesperei para abrir a porta do prédio.
Ela tinha as maçãs do rosto salientes, o nariz bem desenhado e o cabelo cortado como o de um rapaz. Sabia onde encontrar os testículos de carneiro para preparar o Mako-Mako, delicioso, mesmo sem o fígado de dromedário. Sua voz era tão doce quanto seus suspiros. Mas ela estava ferida, não apenas na mente, mas também em seu corpo. Ela fez amor comigo no escuro porque tinha vergonha de seu corpo mutilado pelas agulhas das megeras que procuravam a marca do diabo. “E elas descobriram a marca?” Um fanático sempre encontra o que procura; em Nasserá havia dezenas.
Fugir. Salvar a vida, sua liberdade de ser mulher opositora do apedrejamento daqueles que ousavam aventurar-se, em sua aldeia, para ensinar o perigo da Aids.
Nasserá, bruxa para alguns, adultera para outros. Aqui, imigrante ilegal.
Eu nunca frequentei muito cinema até conhecer Nasserá. Ela tinha um método infalível para evitar longas filas nos guichês: "Se há muita gente, o filme não é bom." Sempre na fileira da frente, levantava a cabeça como se a tela fosse um céu palpitante. E ela planava. De repente, entre uma exclamação e um suspiro, voltava um instante para mim com um beijo na bochecha. Estava eu apaixonado? Hoje eu revivo em pensamento essas palavras que me levaram a construir uma armadura de indiferença que sempre carregarei.
Nasserá podia ler minha mente, curou minhas dores de cabeça pousando a mão esquerda sobre meu ombro. "Você é uma bruxa?" Sua risada ressoou na sala como mil sininhos. Guillaume, meu vizinho, não gostava de mim. Ele era primo de um do secretário de segurança e tinha muita sensibilidade auditiva. Tornava-se cada dia mais intolerante. Seus gerânios adoeceram, envenenados, disse ele. Nasserá o evitava, eu me ria.
Eu odeio croissant de chocolate. Nasserá adorava. No saco de pão eu levava dez. Caíram de minhas mãos quando o porteiro me disse que ela tinha sido levada pela polícia. "Onde?" Corri. Como barata tonta, esbarrava nos muros do cinismo erguidos no anonimato das instituições. O silêncio antes da infâmia: "Vá para casa, senhor, ela se enforcou."
Voltei. Como verme em seu casulo.
O coração envolto em névoa, fazia minhas malas quando os bombeiros descobriram o corpo de Guillaume, meu vizinho, o primo do secretário de segurança. Morto, enforcado.
Hoje sempre volto à pergunta que um dia fiz à minha pequena clandestina: "Diga-me Nasserá, você nunca teve medo da morte?" Ela então olhou-me com seus olhos negros admirados: "Quando se morre, tem-se muito mais a fazer do que pensar sobre a morte...". Nunca tinha pensado nisso, mas agora penso.
E em toda estação ferroviária eu não vejo outra coisa, pessoas morrendo sem se dar conta.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

ENCONTRO DE FAMIÍLIA


  Outro ano e aí vai mais um encontro da Família Battisti no Brasil. O décimo quarto. Não participei a todos, teria sido impossível. Em 2002, quando tudo começou, ainda estava morando na França e nessa época se quer tinha imaginado que algum dia, em 2004, ia parar neste Pais, para me reunir com tantos Battisti, uma multidão inimaginável até mesmo na terra de onde todos nós vimos. Até 2007, por óbvias razões, tanto eu como o Encontro da Família passamos reciprocamente despercebidos. Depois disso veio o meu processo de extradição com quase quatro anos e meio de cadeia. Mas já nesse período alguns Battisti tinham reparado em mim e quando fiquei livre de ir e vir, eles me apanharam durante o Foro Social de Porto Alegre, quando me prestava a tomar a palavra em um debate sobre literatura .

  Impossível esquecer desse momento. A sala lotada, um pelotão de jornalistas na espreita de flagrar o monstro Battisti, a mesa composta de alguns corajosos dispostos a desafiar a provocação que podia chegar a qualquer momento. Foi nesse instante que, em um passo decisivo, Pedrão e Jair Battisti vieram se erguer na minha frente, provocando um murmúrio na sala e a excitação do scoop iminente entre os jornalistas. Nós, da mesa, não tivemos nem tem ainda palavras para descrever o panico que cada um ressentiu frente aos quase dois metros de Pedrão e a não indiferente corpulência de Jair. Foi Pedrão que atacou primeiro em voz alta : “Meu nome é Pedro Battisti. Tenho uma fábrica de móveis que se chamava assim e por causa de você, veja evitar a falência, tive que trocar de nome. A esse ponto o jornalistas estavam com a baba à boca; nós da mesa tentávamos respirar o que ficava de oxigênio na sala. Mas, e sempre tem um 'mas', de repente tudo mudou. O gigante Pedrão sorriu, mostrou-me o livro que tinha em baixo do braço e pediu-me muito gentilmente uma dedicatória. Era o meu primeiro romance publicado no Brasil.

  Esvazia-se a sala, ao final do debate, Pedro e Jair nos convidaram para jantar. Foi em uma das melhores churrascaria de Porto Alegre que eles me contaram sobre o Encontro da Família Battisti que vinha acontecendo cada segundo domingo de janeiro e ao qual gostariam me apresentar.

   Acabo de presenciar, junto com meu irmão e a esposa dele que vêm da Itália cada ano precisamente nessa data e não é por acaso, ao décimo quarto Encontro da Família Battisti em Rodeio Bonito, RS. Como era de se esperar, foi uma grande festa, cheia de abraços, lagrimas de prazer e tante cose buone come si dice da noi.
Aí vêm algumas imagens.
Até a próxima.